sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

"A PAIXÃO É NECESSÁRIA ?"



Tudo parece fácil ao princípio. Um homem e uma mulher apaixonam-se. Deseja-se a presença da outra pessoa – fazem-se tudo para que o outro seja feliz. As dificuldades e os obstáculos não contam e mal se apercebem. Os laços da inércia, a apatia e a fraqueza parecem superadas. “A autêntica paixão torna o homem terno e até puro”, diz o filósofo Dietrich von Hildebrand, e com isto não se refere à embriaguez emocional, ao feitiço dos sentidos, mas ao entusiasmo verdadeiro que se sente por outra pessoa, um fascínio do entendimento e do coração, da vontade e dos sentimentos. Embora talvez este arrebatamento se baseie primeiro no exterior do outro, também se sente a sua bondade e a sua beleza. Tal como o amor conjugal, a paixão autêntica aspira à exclusividade absoluta e à continuidade. Aquele que diz estar agora apaixonado, embora não saiba se amanhã continuará a estar, está embriagado, mas não realmente apaixonado.
A intensa sensação de paixão nos primeiros tempos de casamento é qualquer coisa de positivo que facilita os começos. Um avião de Munique para Hamburgo gasta 80% do combustível quando levanta vôo. É necessário gastar esta imensa quantidade de energia para que o avião atinja a altitude de vôo. Uma vez alcançada, a alimentação necessária é diferente. Assim, será menor e contínua, e de vez em quando têm de se fazer correções, maiores ou menores, da trajetória para manter a rota.
Uma paixão autêntica é a melhor condição para o êxito do casamento. Mas não é absolutamente necessária. Todos os pensadores e poetas e muitas pessoas com experiência na vida, concordam que não é freqüente uma grande paixão conduzir ao casamento. Aquele que a experimenta sente-se feliz e com sorte. Mas também se pode conseguir um casamento feliz sem se começar com ela.
Posto que apaixonar-se não é uma exigência primordial, seria ridículo fazer disso uma condição para nos casarmos ou para persistir na nossa união.
O casamento que nasce da simpatia, da amizade e da benevolência também tem bons alicerces. Embora menos romântico e mais prosaico é indubitavelmente susceptível de progresso. Da simpatia pode nascer amor; do hábito, carinho e confiança.
Um grande número de casamentos são feitos ou por interesse ou por sentimento de dever: há viúvos que têm de procurar uma mãe para os seus filhos pequenos, e viúvas que têm de procurar um pai para os seus filhos adolescentes; também há casamentos que se celebram por agradecimento ou para solucionar o aspecto econômico, para beneficiar de um apelido de prestígio, porque existe uma gravidez ou para não ficar solteiro. Estas razões não são, certamente, nada ideais. Mas quando existe simpatia pelo outro, uma pessoa sente-se bem com a outra e se está disposta a partilhar a vida, estes casamentos podem muitas vezes crescer e aprofundar-se (o casamento por dinheiro é talvez aquele que tem menos probabilidades de êxito). Estão cheios de esperança: a do “verdadeiro” amor que não afeta só a razão mas também o coração.
De uma forma ou de outra, a paixão está sempre na base do amor conjugal embora só o seja como possibilidade latente. Não creio que seja correção menosprezá-la, pois a falta de amor poderia ser uma das causas mais freqüentes do empobrecimento da relação. Isto não significa que a paixão esteja continuamente viva, mas que ela deveria impregnar sempre o casamento, pois, se for aprofundada, representará a sua plena realização. É evidente que casamento e amor não devem identificar-se ingenuamente. O casamento, que é uma união objetiva, é independente dos sentimentos amorosos, garantia de segurança e continuidade. Essa união é como uma cerca no interior da qual se torna possível o crescimento do amor. Baseia-se numa decisão definitiva. A frase “amo-te” é uma característica desta decisão. Por isso, qualquer palavra acrescentada como em “amo-te muito” ou “amo-te imensamente” não é considerada um reforço, mas sim um redutor.
No caso ideal, também não se dirá “amo-te pela tua beleza” pela tua inteligência, pela tua força, pela tua suavidade, pois assim querer-se-ia só alguma coisa do outro (alguma coisa que indubitavelmente é digna de ser amada) mas ainda não se amaria a outra pessoa por si mesma, tal como é. No caso ideal, dever-se-ia dizer “Amo-te por seres como és”. Então, sim, amar-se-ia o outro por ele próprio, através de todas as adversidades da vida, as doenças, a velhice e até da morte.
(Jutta Burggraf, in O desafio do amor humano)

sábado, 14 de janeiro de 2012

"LADAINHA DA HUMILDADE"



Ó Jesus, manso e humilde de coração, ouvi-me.
Do desejo de ser estimado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser amado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser conhecido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser honrado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser louvado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser preferido, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser consultado, livrai-me, ó Jesus.
Do desejo de ser aprovado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser humilhado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser desprezado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de sofrer repulsas, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser caluniado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser esquecido, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser ridicularizado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser infamado, livrai-me, ó Jesus.
Do receio de ser objeto de suspeita, livrai-me, ó Jesus.
Que os outros sejam amados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros sejam estimados mais do que eu, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam elevar-se na opinião do mundo, e que eu possa ser diminuído, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser escolhidos e eu posto de lado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser louvados e eu desprezado, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser preferidos a mim em todas as coisas, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.
Que os outros possam ser mais santos do que eu, embora me torne o mais santo quanto me for possível, Jesus, dai-me a graça de desejá-lo.

terça-feira, 10 de janeiro de 2012

TEMPO COMUM

EVANGELHO QUOTIDIANO

Amigos
Após quatro semanas de preparação e duas de celebração do Natal, eis-nos de novo no «tempo comum». Nele ficaremos até ao início da Quaresma, a 22 de fevereiro.
É o tempo da caminhada, da paciência… Os textos dos domingos falam-nos dos começos da vida pública de Jesus, da vocação dos discípulos, e das primeiras curas. É-nos pedido que olhemos para esse Jesus e decidamos que resposta lhe dar, que atitude tomar diante desse homem que entra nas nossas vidas com uma simplicidade respeitosa e fascinante.
Compreenderemos que o apelo à conversão que ouvimos durante o Advento se dirige verdadeiramente a cada um de nós e nos toca no mais profundo do nosso coração. É preciso responder e caminhar. Como nos dizia Guerric d’Igny num comentário que nos foi recentemente proposto, «mesmo se estiverdes muito avançados no caminho [do Senhor], fica sempre algo a preparar para que, a partir do ponto a que chegastes, possais ir sempre mais além».
Caminhemos, pois, uns com os outros. E se, no nosso caminhar, encontrarmos gente parada à beira da estrada, não hesitemos em desafiá-los a vir conosco. “Vinde e vede”, disse Jesus a João e André.
Uma forma de lhes mostrar o caminho pode ser propor-lhe o Evangelho como leitura quotidiana…. Muitos dos nossos amigos estão à distância de um clic!
Contamos, como sempre, com o vosso entusiasmo evangelizador, com a vossa crítica e com a vossa oração.

Reproduzido do Evangelho Quotidiano

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

PARA SEMPRE



Hoje em dia a lei não permite que duas pessoas se casem sem hipótese de desfazerem o casamento. Não é possível, perante a lei, casar para sempre.
É capaz de ser complexo explicar como se chegou a este estado. Mas é bem mais fácil comprovar os efeitos que o divórcio tem tido na nossa sociedade. Nas nossas crianças, nos que cresceram desequilibrados, nas confusões mentais, na perda da segurança. Não é sem enorme prejuízo que se anula a família, a qual, por sua natureza, se fundamenta num laço inquebrável – a única coisa que permite a estabilidade indispensável à constituição de um lar e ao crescimento de novos seres. Um professor espera, mais cedo ou mais tarde, problemas num aluno cujos pais se divorciaram.
Vamos supor que a lei nos autorizava a fazer duas coisas quando estivéssemos para casar. Uma delas seria o contrato que agora existe e pode ser anulado com maior ou menos facilidade. A outra, um pacto inquebrável, que impedisse os que se casam de virem a casar mais tarde com outra pessoa qualquer, a não ser por morte do seu cônjuge.
Vamos, ainda, supor que dois jovens se amavam. Ele pedia-a em casamento e ela, naturalmente, perguntava qual das duas espécies de casamento lhe propunha ele.
Poderia ser uma situação embaraçosa, não acham?
Que responderia o meu leitor à sua bem-amada se fosse o jovem da minha suposição? Seria capaz de lhe propor o casamento descartável? Isso não seria uma manifestação de que o seu amor não era bem… amor?
Que resposta esperaria a minha leitora, se fosse a jovem em questão? Não teria estado a sonhar com um amor para toda a vida, com um vestido de noiva cheio de sentido?
Sucede que o amor do casamento é de tal forma que não admite meias-tintas: se existe é para sempre. Se aquilo que se entrega não é tudo, esse amor não tem a qualidade necessária para se tornar no fundamento de uma família. Não pode ser alicerce nem raiz. Não será fecundo. Dará frutos apodrecidos, como, infelizmente, temos verificado tantas vezes.
O amor não admite o cálculo. Não faz contas. O amor é louco.
“É uma loucura amar, a não ser que se ame com loucura”, dizia o velho adágio latino. Mas hoje cometemos a loucura, e a tolice, de amar sem loucura… Fazemos as nossas contas e os nossos cálculos. Avançamos as peças do nosso xadrez, mas com o cuidado de prevermos uma escapatória, para o caso de ser preciso bater em retirada.
Medo de que o casamento não corra bem?… O amor e o medo não podem andar juntos. Quem tem medo não entende nada de amor. Amar é, precisamente, não ter medo. É acreditar que se possui uma força imensa. Quem ama sabe que é também possuído e protegido pelo amor. E que, por isso, caminha noutra altura; voa por cima dos gelos, dos salpicos das ondas, das pedras aguçadas. Vai por cima de um mundo muito pequeno, nas asas de um fogo, em mãos de fadas. Possui outra dimensão. Parece-lhe que quem não ama é um morto-vivo…
Somos capazes de um amor assim. Somos capazes de jogar a vida inteira no consentimento matrimonial. Somos capazes de incluir todo o nosso ser numa palavra que dizemos. E de tornar de aço essa palavra pelo tempo fora, através de todos as dificuldades.
Paulo Geraldo