sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Encontro Provincia Leste-2010


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"HONRAR PAI E MÃE"

Se as relações familiares não fossem intrinsecamente complicadas, não existiria o mandamento "Honrarás pai e mãe”. Comentário de grande sabedoria. Assunto inesgotável. Como educar, como cuidar neste mundo maravilhoso e tresloucado, com tanta sedução e tanta informação – um mundo no qual, sobretudo na juventude, nem sempre há o necessário discernimento para escolher bem?

Saber distinguir o melhor do pior, ser capaz de observar e argumentar, são o melhor legado que família e escola podem dar. Na família, fica abaixo só do afeto e da segurança emocional. Na escola, importa mais do que o acúmulo de informações e o espaço das brincadeiras, num sistema que aprendeu erroneamente que se deve ensinar como se o aluno não tivesse de aprender. Fora disso, meus caros, não há salvação. Isso e professores supervalorizados e bem pagos, escola para todos — não mais milhões de crianças e jovens em casas cujo pátio é barro misturado a esgoto, ou na rua, com o crack e a prostituição. Um ensino que dê muito e exija bastante: ou caímos na farra e no despreparo para a vida, que inclui graves decisões pessoais e um mercado de trabalho cruel.

Bem antes da escola vem o fundamental, o ambiente em casa, que marca o indivíduo pelo resto de sua jornada. Se esse ambiente for positivo, amoroso, a criança acreditará que amor e harmonia são possíveis, que ela pode ter e construir isso, e fará nesse sentido suas futuras escolhas pessoais. Se o clima for de ressentimento, frieza, mágoas ocultas e desejos negativos, o chão por onde o indivíduo vai caminhar será esburacado. Mais irá tropeçar, mais irá quebrar a cara e escolher para si mesmo o pior.

Dificuldades familiares não têm a ver só com o natural conflito de gerações, mas também com a atitude geral dos pais. Eles têm entre si uma relação de lealdade, carinho, alegria? São realmente interessados, tentam assumir suas responsabilidades grandes e difíceis? Foi-se o patriarcado, em que havia regras rígidas. Eu não quereria estar na pele dos infratores de então, os filhos que ousavam discordar. Em lugar da anterior rigidez e distância, estabeleceu-se a alegre bagunça, com mais demonstrações de afeto, mais liberdade, mais respeito pelas individualidades — muitas vezes com resultados dramáticos. Lembro a frase que já escrevi nesta coluna, do psicólogo que me revelou: "A maior parte dos jovens perturbados que atendo não tem em casa pai e mãe, tem um gatão e uma gatinha". Talvez tenham uma mãe que não troca cabeleireiro e academia por horas de afeto com os filhos, ou um pai que corre atrás do dinheiro necessário para manter a família acima de suas possibilidades, por ilusão sua ou desejo de status de uma mulher frívola.

Crianças de 11 anos freqüentam festinhas em que rola o inenarrável: onde estão pai e mãe?Adolescentezinhos rodam de madrugada pelas ruas, dirigindo bêbados ou drogados: onde estão pai e mãe? Quase crianças passam fins de semana em casas de serra e praia reais ou fictícios, com adultos irresponsáveis ou só entre outras crianças, transando precocemente, drogando-se, engravidando, semeando infelicidade, culpa, desorientação pela vida afora. Onde estão os pais?

Ter filho é talvez a maior fonte de alegria, mas também é ser responsável, ah sim! Nisso sou rigorosa e pouco simpática, eu sei. Esse é o dilema fundamental numa sociedade que prega a liberalidade, o “divirta-se”, o “cada um na sua”, como num pré-apocalipse. Mais grave ainda num momento em que a honradez de figuras públicas (que deveriam ser nossos guias e modelos) é quase uma extravagância. Pais bonzinhos são tão danosos quanto pais indiferentes: o amor não se compra com presentes, nem permitindo tudo, nem fingindo não saber ou não querendo saber, muito menos desviando o olhar quando ele devia estar vigilante. Quem ama cuida: velho princípio inegável, incontornável e imortal, tantas vezes violado.

Lya Luft, Revista Veja, edição de 11 Junho de 2008.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

"Por uma Igreja que pensa"


O escritor, compositor e cantor Pe. José Fernandes de Oliveira, o Pe. Zezinho, SJC, escreveu um texto bastante provocativo (no bom sentido da palavra) em sua coluna para o Semanário "O São Paulo", da Arquidiocese de São Paulo. Ele faz um protesto contra a falta de zelo e cuidado em relação aos vários ministérios e serviços na Igreja. Mais do que um texto pessimista, penso que seja uma saudável provocação para avaliarmos até que ponto levamos a sério os dons e os ministérios que o Espírito Santo concedeu à comunidade na qual cada um de nós estamos presentes. E até que ponto "caprichamos", para que o anuncio da Palavra de Deus, a preparação da liturgia e a acolhida das pessoas seja feito de maneira adequada e digna.


POR UMA IGREJA QUE PENSA

Leitores que não preparam as leituras. Cantores que não ensaiam os cantos. Coroinhas que não ensaiam a sua parte. Sacerdotes que não preparam seus sermões. Catequistas que não lêem os documentos da Igreja. Pregadores que não leram o catecismo. Cantores desafinados que insistem em liderar os cantos da missa. Músicos sem ritmo e sem ensaios que tocam alto e errado. Cantores que dão show de um hora, sem perceber que a guitarra e o baixo estão desafinados. De quebra, também um dos solistas...

Autores que não aceitam corrigir seus textos e suas letras, antes de apresentá-los a milhões de irmãos na fé. Cantores que teimam em repetir uma canção cuja letra o bispo já disse que não quer que se cante mais. Párocos que permitem que qualquer um lidere as leituras e o canto. Párocos que permitem qualquer canção, mesmo se vier errada. Sacerdotes que ensinam doutrinas condenadas pela Igreja, práticas e devoções com ranços de heresia ou de desvio doutrinário. Animadores de programas católicos com zero conhecimento de doutrina.

Parecemos um hospital que, na falta de médicos na sala de cirurgia, permite aos secretários, porteiros e aos voluntários bem intencionados que operem o coração dos seus pacientes. Há católicos aconselhando, sem ter estudado psicologia. Há pregadores receitando, sem terem estudado teologia moral. E há indivíduos ensinando o que lhes vem na cabeça, porque, entusiasmados com sua fama e sua repercussão, acham que podem ensinar o que o Espírito Santo lhes disse naquela hora. Nem sequer se pergutam se de fato era o Espírito Santo que lhes falou durante aquela adoração, ou aquela noite mal dormida!

Está faltando discernimento na nossa Igreja! Como está parece a casa da mãe Joana, onde todos falam e apenas uns poucos pensam no que falam. Uma Igreja que não pensa acaba dando o que pensar!

Texto extraído do Semanário "O São Paulo", da Arquidiocese de São Paulo / nº 2789 - Ano 55 - 9 a 15 de março de 2010.

Enviado por Dom Bento Albertin,OSB