O divórcio foi considerado durante muito tempo como o último recurso para a extinção do casamento, entendido como vínculo – união ou comunidade conjugal – em vida de ambos os cônjuges. Atualmente as coisas estão em mudança e o divórcio deixou de ser o “último” recurso, para passar a ser visto como um direito individual sem oposição, considerando sem valor os compromissos assumidos e onde imperam os caprichos e desejos dos pais, mesmo sobre as necessidades dos filhos.
São as crianças, os filhos, quem mais sofre com o flagelo do divórcio e mais de um milhão estão nessas circunstâncias.
Ora muitos dos que entre os anos 70/90 sofreram os traumas da separação dos pais estão agora em idade de constituir família e não querem que os seus filhos venham a sofrer o que eles sofreram. Barbara Whitehead, no seu livro The Divorce Culture, não se opõe ao divórcio, como tal, mas sim ao divórcio procurado como uma solução egoísta para os problemas pessoais. No livro, a autora mais que recuperar os “valores familiares”, ultrapassando qualquer crença religiosa, apela ao bom senso, focando as consequências negativas que acarreta para os filhos, numa altura em que tanto se fala dos “Direitos das Crianças”.
O divórcio tem dominado a visão que temos da família, do casamento e até da sociedade. Após os anos 60, defender a estabilidade do matrimônio é considerado como culpar os que se divorciam, é defender a submissão da mulher ou impor convicções religiosas. O divórcio passou de solução extrema, para “direito consagrado”. E não só. À volta do divórcio cresce uma indústria muito rentável: a dos advogados, dos psicólogos, dos consultores matrimoniais e, ultimamente, das videntes.
A busca da felicidade a qualquer preço – questão por demais eminentemente subjetiva – leva a considerar o matrimônio como fonte de problemas e o divórcio como “solução salutar” para resolvê-los ou acabar com eles. Nada nem ninguém pode afirmar que aquilo que não resultou à primeira vai resultar à segunda. Excluímos aqueles que vivem à custa do negócio de (mal) aconselhar os que passam por crises no seu casamento e que consideram o divórcio como uma “libertação”, quando não uma “batalha”.
Nestes últimos anos os americanos têm tentado explicar às crianças a razão da separação dos pais, mas mais não conseguem do que elas aceitem o fato. E se o divórcio é litigioso e os filhos são chamados a depor em tribunal, isso é para eles um trauma que os anos não apagam, além de colocá-los ou contra a mãe ou contra o pai.
Os americanos estão a acordar, e os casais sentem-se animados a lutar pela manutenção do seu matrimônio, crentes de que as crises se podem, na maioria dos casos superar e, sobretudo, que no fim isso vale à pena. É lamentável que contra esta tendência proliferem as tentativas de impor leis que favorecem o divórcio apresentando-o como algo de “progressista!”.
Nós, sempre atrasados, falamos em “divórcios bem conseguidos”, coisa que ninguém, de bom senso, sabe explicar o que é. Será o divórcio por mútuo acordo? Então para os filhos basta que os pais se entendam por via burocrática acerca das suas vidas, como dois sócios de uma firma comercial acerca da melhor estratégia nos negócios. Não. É muito pouco. Os filhos não são mercadorias que devem ser rentabilizadas em termos de educação; são seres humanos muito sensíveis que amam e desejam ser amados e queridos.
(Maria Fernanda Barroca)
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