quinta-feira, 17 de julho de 2008

O FUTURO DA FAMÍLIA


De 3 a 5 de abril deste ano, realizou-se em Roma a XVIII Assembléia Plenária do Pontifício Conselho para a Família, que teve como tema: "Os avós: o seu testemunho e presença na família".

No discurso, de 3 de abril, o Papa Bento XVI nos ensina: "Que os avós voltem a ser presença viva na família, na Igreja e na sociedade. No que diz respeito à família, os avós continuem a ser testemunhas de unidade, de valores fundantes sobre a fidelidade a um único amor que gera fé e a alegria de viver. Os chamados novos modelos de família e o relativismo alastrador enfraqueceram esses valores fundamentais do núcleo familiar. Os males da nossa sociedade, como justamente observastes durante vossos trabalhos, precisam urgentemente de remédios. Em face da crise da família não se poderia talvez recomeçar precisamente da presença e do testemunho daqueles (os avós), que têm maior consistência de valores e de projetos? De fato, não se pode projetar o futuro sem se basear num passado rico de experiências espirituais e morais."

Bento XVI, a 8 de julho de 2006, na Vigília de Oração, em Valencia, Espanha, ensina que os avós, por "nenhuma razão, sejam excluídos do círculo famliar. São um tesouro que não podemos arrebatar às novas gerações, sobretudo quando dão testemunho da fé diante da proximidade da morte".

Com data de 2 de outubro de 1999, o Papa João Paulo II enviou uma longa "Carta aos Anciãos" de todo o mundo, quando o Papa de então, idoso e doente, nela se incluía. A Sagrada Escritura conserva uma visão muito positiva do valor da vida. A idade avançada encontra na palavra de Deus uma grande consideração, a tal ponto que a longevidade é vista como sinal de benevolência divina. O Levítico sintetiza quando diz: "Levanta-te perante uma cabeça branca e honra a pessoa do ancião" (Lv 19,32). Nessa carta do Papa João Paulo II aos anciãos há um rumo a seguir: "A comunidade cristã pode receber muito da serena presença dos que têm muitos anos de idade. Penso sobretudo, na evangelização: a sua eficácia não depende principalmente de eficiência operativa. Em muitas famílias os netinhos recebem dos avós os primeiros rudimentos da fé! Porém, existem muitos outros campos a que pode estender-se a benéfica contribuição dos anciãos. O Espírito atua como e onde quer, servindo-se frequentemente de meios humanos que aos olhos do mundo não têm muita importância. Quantos encontram compreensão e conforto em pessoas anciãs ou doentes, mas capazes de infundir coragem pelo conselho bondoso, a oração silenciosa, o testemunho do sofrimento acolhido com paciente abandono! Justamente quando as energias vêm faltar e se reduz a sua capacidade de movimento, esses nossos irmãos e irmãs se tornam mais preciosos no desígnio misteriosoa da Providência."

Em nossos dias o ambiente doméstico nem sempre é favorável à presença dos idosos, dos avós, entre outros, quando se respira uma atmosfera permissiva. As exigências de moral nem sempre são observadas. Uma outra geração contraria gerando atritos. E então, em vez de se reprimir excessos, afastam-se os anciãos. Perde-se a oportunidade de aproveitar da riqueza dos avós.

Na carta do Papa João Paulo II aos anciãos acima referida, encontramos o seguinte trecho de importância para os avós: "Caríssimos anciãos que vos encontrais em situações precárias por motivo de saúde ou outros, eu vos acompanho com afeto. Podemos estar certos: Deus é Pai, um Pai rico de amor e de misericórdia! De modo especial, penso em vós, viúvos e viúvas, que ficastes sós a percorrer o último trecho da estrada da vida; em vós, religiosos e religiosas anciãos, que durante longos anos servistes fielmente à causa do Reino dos Céus; em vós, caríssimos irmãos no Sacerdócio e no Episcopado que, tendo alcançado o limite de idade, deixastes a direta responsabilidade do ministério pastoral. A Igreja necessita ainda de vós. Ela aprecia os serviços que ainda podeis prestar nos vários campos do apostolado, conta com o apoio da vossa assídua oração, espera o vosso experimentado conselho e se enriquece com o testemunho evangélico por vós prestado dia após dia."

Jamais destruindo a autoridade no lar construiremos o futuro da família. Igualmente, devemos ensinar aos mais velhos que não podem esquecer que um dia foram jovens e que as gerações de hoje não são cópias das de ontem, mas possuem características próprias que precisam ser respeitadas, quando não se colocam contra a lei eterna de Deus.


D.Eugênio Sales

Cardeal-Arcebispo Emérito da Arquidiocese da cidade do Rio de Janeiro.

Publicado no jornal "O Globo".

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