Não é difícil perceber que a Sociedade Humana em que vivemos torna-se cada dia mais materialista, embriagada pela busca voraz do lucro, mergulhada num consumismo desumano, corroída por uma sexualidade irracional, que se propõe como única fonte de felicidade para o ser humano... Salta aos olhos a força crescente da mídia, especialmente da internet, na rápida propagação destes contra-valores que vão adentrando ditatorialmente a intimidade das pessoas, com consequências desastrosas para a vida em suas últimas dimensões.
Neste contexto, vamos presenciando, com o coração apertado e sofrido, a devastação das famílias, da juventude,... a falência do amor! Neste sentido creio ser de grande importância a publicação, no ano passado, da corajosa e inspirada obra do Dr. Jorge Scala, “Ideologia do Gênero – O neototalitarismo e a morte da família”!
Em tão turbulento contexto sócio-cultural, a Igreja é convocada pelo Senhor da Vida a manter acessa, contra tudo e contra todos, a chama da Fé n’Aquele que é “o Caminho a Verdade e a Vida”, o Vencedor da morte e de suas propostas, Aquele cuja Ressurreição estamos celebrando intensamente neste Tempo Pascal.
É de suma importância perceber, pela leitura humilde e lúcida da Fé, o significado denso, eu diria até perturbador, da relação íntima entre o fato “Ressurreição” e o fato “Pentecoste” na nossa vida de Católicos. No centro desta medição está o Cap.2 dos Atos dos Apóstolos. Sua leitura atenta permite-nos perceber o iluminado horizonte da Missão e como que “nos vira pelo avesso” diante do Senhor! Vejamos: O Senhor Jesus, ressuscitado, envia seus discípulos para pregar o Reino de Deus, seus valores, seus caminhos de conversão ao mundo inteiro, a começar por Jerusalém, até chegarem ao centro do poderoso Império Romano: Roma! Nada mais nada menos do que fazer face à expansão do paganismo greco-romano, contrapondo a ele a pregação do Evangelho como proposta de uma vida nova, justa, santa, iluminada pelo verdadeiro Amor! Para tanto o Senhor prepara seus Apóstolos, e através do tempo toda a sua Igreja, mediante a ação radicalmente transformadora do Espírito Santo.
Lendo o cap. 2, 1-4, dos Atos dos Apóstolos, somos confrontados fortemente com esta ação transformadora: v.3: “Apareceu-lhes, então, uma espécie de línguas de fogo, que se repartiram e repousaram sobre cada um deles.” v.4: Ficaram todos cheios do Espírito Santo...” Dois elementos fundamentais: “língua” e “fogo”, primeiramente, queima, torram, carboniza... Mas também aquece e ilumina.
O Espírito Santo tomou posse daqueles doze homens tímidos, acovardados, medrosos, “carbonizou” tudo isso dentro deles e os transformou em homens aquecidos pelos valores do Amor ao Mestre e ao próximo, de modo a poderem acender a Luz da Verdade dentro da escuridão do paganismo. Tornaram-se, assim, capazes de comunicar a Mensagem forte do Evangelho, pois “soltaram-se suas línguas” e a Palavra pôde falar por meio de cada um deles, até selarem sua missão derramando o próprio sangue no martírio.
Aí está o que a Igreja “grita”, em nome do Senhor, para cada um de nós, batizados: supliquemos ao Espírito Santo que venha “carbonizar” dentro de cada um de nós toda a velha estrutura de pecado, todos os medos que nos travam, toda a covardia que nos encolhe dentro de uma fé mesquinha, acomodada, intimista e subjetiva, enfim, reduzidos a homens e mulheres “apagados” diante do Poder da Escuridão do paganismo que nos cerca. Que assim convertidos por Ele, saiamos a campo, destemidamente, sem medo de críticas ou de rótulos, para proclamar a verdade da Família tal como Deus a pensou e criou: a sólida união do amor entre um homem e uma mulher, ungidos pela graça do Sacramento!
A Missão nos é confiada pelo Senhor, através da Igreja, e a partir dela o Senhor nos envia, com a força do seu Espírito Santo a desmascarar a tentativa de impor às mentes e aos corações, uma nova antropologia que origina uma nova cosmologia e vai provocando uma mudança total, funesta, nas pautas morais da Sociedade em que vivemos.
Imploremos ao Senhor que um “Novo Pentecostes” irrompa nos corações daqueles que Ele chamou pelo batismo e enviou para colocar o fogo da Verdade nesta Humanidade carente de salvação!
D.Alano Maria Pena OP
Arcebispo Emérito de Niterói
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