domingo, 3 de novembro de 2013

NOITE DE FORMAÇÃO DO SETOR LAGOS

NOITE DE FORMAÇÃO DAS EQUIPES DE NOSSA SENHORA – SETOR LAGOS.

TEMA: FAMÍLIA E ESPIRITUALIDADE CONJUGAL
PADRE JOÃO LUIS FRANCO ASSUNÇÃO 

PRIMEIRA PARTE - FAMÍLIA

Vamos começar definindo o termo família. Bem Padre, será que é preciso isso? Eu vou dizer pra vocês. Hoje, mais do que nunca é importante mergulhar no sentido mais profundo dessa expressão, família. E eu pergunto a vocês, por quê? E eu mesmo respondo. Porque hoje os inimigos de Deus e da Igreja, os inimigos do sacramento do matrimônio, os inimigos da espiritualidade cristã, eles tem lutado dia e noite para destruir o conceito de família. A partir do conceito, para que não se tenha mais a ideia de família como o Evangelho traz para nós. A cada momento eles estão trabalhando, nós estamos aqui e eles estão trabalhando. E eles querem definir isso através da maior esfera, na esfera do poder governamental, dos poderes da República. Querem destruir a noção de família a partir dos poderes legislativo, judiciário e o executivo. Alguém pode me dar um exemplo disso? Quem de vocês poderia me dar um exemplo disso? Casamento gay, aborto... . Mas existe um mais específico ainda. A noção de família já não é mais a comunidade de amor fundada no sacramento, como um compromisso conjugal, pra quem não tem fé, por exemplo, mas a família hoje é qualquer ajuntamento de pessoas, que pode ser considerado família. Já perceberam isso? Qualquer ajuntamento debaixo do mesmo teto pode ser considerado família. E é por essa porta que começa, então, a aprovação do casamento gay, da adoção de crianças por homossexuais, nada contra os homossexuais, o problema não é esse, o problema é atingir o conceito de família. 

E quando se atinge o conceito de família para reconhecer qualquer grupo humano como família, a partir deste momento, eu deixo de reconhecer a família como a comunidade amorosa constituída pelo sacramento do matrimônio pra admitir que qualquer grupo pode ser considerado família. E hoje, de propósito, usa-se esse termo família pra tudo, e vocês também já repararam, é a família isso, é a família aquilo, é a família de tal clube, é a família de ex-alunos da escola, é a família de uma empresa, a família Shell, família não sei o que..., já perceberam isso? Então, se usa bastante o termo família, pra quebrar aquele conceito específico que justamente nós cristãos temos, de que família é a comunhão de vida e amor fundada no sacramento do matrimônio e na vontade de Deus. Ela se constitui pela aliança amorosa entre um homem e uma mulher, na presença de Deus, e ela é aberta para a vida dentro daquelas características fundamentais que a bíblia traz pra nós. O conceito de família deve ser guardado por nós, e defendido por nós, ainda que os outros tencionem esconder e sufocar ou até mudar as leis, nós cristãos precisamos ficar cada vez mais firmes ao defender o conceito de família, o conceito cristão de família é esse “uma comunidade de vida e amor fundada pelo sacramento do matrimônio e aberta para a vida e para a felicidade.” Esse é o conceito cristão de família. 

Não é qualquer ajuntamento, não é qualquer grupo de pessoas juntas, esses nunca podem ser considerados uma família porque não tem os elementos constitutivos necessários para a formação da família. Mas os homens e mulheres de hoje, envenenados pelo relativismo moderno, pensam que mudando a lei, mudando o enunciado da lei, eles pensam que mudam também os conceitos mais profundos, de tal modo que se você diz: “desculpem mas é que não posso aceitar isso como uma família”, eles dizem que você está contra lei, você é que está errado. Você vê uma família constituída de duas Marias ou de dois Manuéis, ou o Sr. Pedro com o Sr. José. Se você disse assim: “eu não posso reconhecer esse tipo de convivência como família”, eles dizem que há uma lei que garante aquilo e você está contra a lei. Ser cristão é contra a lei. É muito pernicioso, mas eles tentam mudar o conceito, e assim eu pensam que mudando as leis eles tornam esse conceito que antes era mau, eles transformam num conceito bom, e ele é legal, o conceito de família atual, uma vez aprovado, ele é legal. 

Agora, vamos a uma reflexão mais profunda um pouco. Nem sempre o que está na esfera do legal é moral. Não é verdade? Eu me lembro quando eu era mais jovem do que eu sou hoje..., antes de entrar no seminário eu tinha passado no vestibular pra direito, e comecei a estudar direito. Eu estudei alguns períodos de direito, e me lembro justamente de uma das aulas em que a gente aprendia sobre as esferas do direito, da lei, da moral e da religião. E essas esferas vão se tornando concêntricas. Tem advogados aqui, também devem ter estudado isso. Tem a esfera maior de todas, a mais ampla, que era fundada mais do que nunca no próprio Deus, filosoficamente. A esfera maior que é a esfera da moral, e dentro da esfera da moral, vinha a esfera da ética, e dentro da esfera da ética, vinha a esfera do direito, e dentro da esfera do direito, a menor de todas, a esfera da lei, então a lei pra ser justa ela tem que estar compreendida nas noções maiores, mas hoje, no mundo moderno, essa coisinha não é mais importante, porque nós vivemos, no dizer do Papa Bento, a ditadura do relativo. 

E esse é o grande veneno para as famílias católicas. Na ditadura do relativismo, tudo é relativo, e se eu digo qual o conceito de família, e vão dizer: "pode ser pro senhor Padre, mas não é pra mim." O homem moderno se perdeu na relatividade. Compreende o que eu estou dizendo? Na ditadura do relativo, tudo é relativo, e esse veneno entra na nossa vida, entra na vida de vocês, ele entra na vida dos seus filhos, exige uma orquestração de marketing muito bem elaborada trabalhando pra que esses conceitos entrem, e esses conceitos mudem. O homem perdeu o senso da objetividade, ele vive o subjetivo, nós vivemos num mundo em que o importante é o subjetivo. Se você diz: “Pessoal olha só, isso não é certo, isso não é bom”..., aí eles vão dizer: “desculpe, não é bom pra você? Pra mim é bom, é bom pra mim, então é bom." Não é assim que a gente vive no mundo de hoje? Agora vai dialogar com uma pessoa assim. Venha com o Evangelho, venha com a palavra de Jesus Cristo pra essa pessoa. Eles vão dizer: “Viver essa parte do Evangelho é bom pra você, mas não é bom pra mim”. 

É isso que o Papa Francisco chama de uma religião sob medida. Eu quero ser Cristão, eu quero ser Católico, eu quero me sentir membro da Igreja, agora eu quero uma religião sob medida pra mim, igual a um sapato. Eu calço 42, tem uma religião 42 aí pra mim? Não, porque a religião que está aqui é 39. Eu não vou apertar o meu pé pra calçar um 41. O meu é 42. E no mundo de hoje a pessoa pensa que pode comprar uma religião assim, como quem compra um sapato. Então eu procuro uma religião a minha medida. Já não é mais o homem criado a imagem e semelhança de Deus. Não, isso já não é mais importante pro homem moderno, eu quero um Deus à minha imagem e semelhança. Eu não quero um Deus que me fale aquilo que eu não quero ouvir, eu quero um Deus que me diga o que eu quero ouvir, o que vem de encontro ao meu desejo, a minha atitude, é a ditadura do relativismo. Eis a opinião de um filósofo que dizia algo muito interessante: "...e assim o homem cria Deus à sua imagem e semelhança". E também cria uma Igreja à sua imagem e semelhança. Ou pior, ele quer continuar naquela mesma Igreja, mas sem mudar a vida, sem mudar as suas escolhas pessoais. Compreendem o que eu estou dizendo? 

E vocês pensam que isso não existe? Está cheio! Está cheio. E não está longe não. Está dentro da nossa paróquia. Está na paróquia em que vocês vão à missa todos os domingos. E ali naquela multidão toda, tem um monte de gente que adora a si mesmo, mas não a Deus. Tem um monte de gente criando um Deus à sua imagem e semelhança ao invés de cultivar e adorar o único Deus verdadeiro, só Deus pode ser adorado. Tem um mundo de gente selecionando as páginas do evangelho e escolhendo aquelas que eles querem e aquelas que eles não querem viver, tirando as partes incômodas do evangelho. Uma religião subjetiva, uma religião relativizada, uma religião mentirosa. 

Tudo isso diariamente entra em contato conosco. Você vai ligar a televisão e logo vêm os falsos conceitos da catequista do capeta dia e noite, criando falsos conceitos e vomitando aquilo dentro da sua casa. Não é verdade? Antigamente, quem queria ver um filme de safadeza ia num cinema de 5ª categoria, escondido, porque tinha vergonha de alguém vê-lo entrar num cinema desses, e a paciência de ter que ir até lá. Hoje não. Hoje vocês estão tranquilamente dormindo o sono dos anjos e sabe Deus o que os seus filhos estão vendo na internet. Verdade ou mentira? Antigamente a imoralidade estava fora da sua casa, hoje está dentro. Os conceitos não são mais filtrados, a gente vai vivendo os conceitos falsos, basta ver uma novela. Eu me lembro da minha própria família. Um dia eu estava em família vendo televisão em casa, uma determinada novela, o cara era casado com uma mulher, mas se apaixonou por outra, sabem como é, não? Os autores fazem sempre da mulher verdadeira o cão chupando manga, e a amante é sempre boa, maravilhosa. É sempre assim. E aí eu estava vendo a minha própria família, a minha mãe, as minhas irmãs, todo mundo torcendo contra a mulher verdadeira, ai eu falei, meu Deus, como é que a gente bebe fácil a mentira. Até mesmo as nossas famílias cristãs, sem perceber, e com isso nós estamos bebendo a ditadura do relativismo. 

Meus amigos, se tudo é relativo, se tudo é subjetivo, o evangelho inteiro vem por terra. Se eu creio que a minha concordância pessoal é que vai dar valor ou não àquilo que vai ser transmitido ou ensinado, então eu já não creio mais que Jesus Cristo é a verdade, a verdade sou eu! Eu usurpei o lugar de Deus na minha vida. Eu tirei Deus do trono do meu coração e elegi como ídolo a minha própria imagem. E eu dou a ele o nome Deus. Na verdade, é a mim que eu adoro. É o meu gosto, é o que é mais fácil. Cuidado! Família é a comunidade de vida e de amor, firmada na aliança matrimonial, que é um sacramento, e aberta para a vida. Isso é a família no conceito de Jesus Cristo. E nada mais.

Palestra realizada no dia 30/10/2013, pelo Padre João Luis, Sacerdote Conselheiro Espiritual da Equipe 12, Nossa  Senhora do Carmo.

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