Dom Odilo P. Scherer
Com o Advento, a Igreja inicia um
novo Ano Litúrgico; enquanto fazemos memória das grandes etapas e fatos da
história de Deus com a humanidade, somos envolvidos pela ação salvadora de
Deus. Mais que recordar ações do passado, trata-se de acolher no presente de
nossa vida essa mesma ação de Deus e ser beneficiados por ela.
No Advento colocamo-nos numa
dupla perspectiva: olhando para trás na história, recordamos o que Deus já
realizou pela humanidade, sobretudo mediante o envio do seu Filho Jesus Cristo;
e nos alegramos pela imensa condescendência que Deus teve para conosco,
manifestada no Natal do Salvador da humanidade. Olhando para frente,
preparamo-nos para a realização plena das promessas de Deus e para ir ao seu
encontro; com a Igreja e toda a humanidade ansiosa de salvação aclamamos: vem,
Senhor Jesus!
Por isso mesmo, o Advento é
marcado pela esperança e a alegria. Os belos textos proféticos lidos neste
tempo litúrgico, sobretudo os de Isaías, falam da eficácia das promessas de
Deus; mostram um Deus amigo dos homens, cheio de misericórdia e pronto a
perdoar e a restaurar a vida do seu povo. Os textos litúrgicos da Missa e das
outras celebrações deste período, muito belos, falam com freqüência do Deus que
se faz Emanuel - Deus-conosco. Esperança e alegria devem, por isso,
acompanhar-nos ao longo do Advento.
É justamente esta proximidade de
Deus que nos pode trazer esperança; na vida não contamos apenas com nossas
pobres forças, sempre falíveis, mas com o poder de Deus. Por isso, a esperança
que acompanha este tempo não se refere apenas a coisas futuras, mas constrói
desde já sobre a certeza da fidelidade de Deus à sua palavra. Justamente na
abertura do Advento deste ano, o Papa Bento XVI deu à Igreja uma valiosa
Encíclica sobre a esperança cristã: “Spe salvi” (Somos salvos na esperança).
Vale a pena ler e meditar a Encíclica durante este Advento.
Sem esperança, o mundo não tem
futuro; sem esperança, também não haverá justiça, solidariedade e paz. E não
bastam as esperanças suscitadas pelos projetos e realizações humanas, sejam
eles a ciência ou a técnica, os regimes políticos e as ideologias, o cultivo da
saúde e da beleza e o gozo da vida: por mais importantes que sejam, todas essas
propostas têm alcance limitado e contam apenas com as forças humanas.
Precisamos de um horizonte de certeza que supere as seguranças construídas por
nós mesmos. O fundamento da verdadeira esperança, como bem recorda Bento XVI, é
o próprio Deus.
No primeiro domingo do Advento
deste ano, o texto de Isaías fala da “casa do Senhor”, que se transformará numa
referência para todos os povos, que anseiam pela paz e pela justiça; Jerusalém
é a habitação de Deus, “casa de Deus”, lugar onde se aprende a lei de Deus e se
edifica uma convivência pacífica; já não haverá mais a necessidade de treinar
para a guerra e as armas de destruição e de morte podem ser transformadas em
instrumentos pacíficos de trabalho e de produção de alimentos. No final da
leitura, o profeta faz um apelo: “vinde todos,
deixemo-nos guiar pela luz do
Senhor”. É uma imagem bonita daquilo que podem ser também nossas cidades, se
acolherem verdadeiramente a presença salvadora de Deus.
Também São Paulo, na Carta aos
Romanos, convida a acordar, pois a noite vai adiantada e o dia se aproxima;
isso significa deixar de lado as ações das trevas e revestir-se de Cristo, luz
do mundo. Jesus recorda que seus discípulos devem ser “luz do mundo”; mas eles
poderão sê-lo somente se deixarem o coração inflamar-se no encontro com Cristo,
“luz verdadeira que ilumina todo homem que vem a este mundo”. Deus nos abençoe
e nos dê um feliz tempo de Advento.
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