terça-feira, 14 de janeiro de 2014

ASSIM NOS FALOU PE. CAFFAREL


“Sejam Santos...”

            A santidade até há pouco parecia exigir a fuga do mundo, mas agora sempre mais reivindica seu lugar no coração do mundo. O cristão não considera a realidade temporal como algo a ser sacrificado em função de um bem maior; mas como algo que precisa ser retomado e inserido na grande corrente que deve levar a criação toda na direção de Deus. [...] Seria ingenuidade, porém, acreditar que essa evangelização do temporal possa ser feita sem confrontos nem combates. A realidade temporal ainda é, de maneira terrível, feudo do “príncipe deste mundo”, que não pretende soltar sua presa! Imagina alguém que o mundo do trabalho poderá ser levado a Cristo sem um duro esforço, ou que o mundo do capital possa ser facilmente convertido ao Evangelho? E o mundo da política, e o da ciência, e o da arte? Essa conquista da natureza pela graça exige que a santidade esteja presente por toda a parte no mundo moderno. Aí está todo o problema: teremos santos leigos (santos... fique claro: homens totalmente entregues a Cristo, habitados pela caridade, movidos pelo Espírito), operários, camponeses, industriais que sejam santos, políticos que sejam santos, artistas que sejam santos?
            Padre Caffarel escreveu essas linhas vinte anos antes do Concílio Vaticano II, que inculcou com muita força essa vocação de todos os batizados à santidade. Esse foi o objetivo de toda a sua ação apostólica: levar os leigos à santidade. Primeiramente entre jovens, com os quais se ocupou durante os primeiros anos de seu ministério, antes da guerra de 1940. Depois com os casais que reuniu no Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Finalmente com todos aqueles, de todos os estados de vida, que acorriam a Troussures, para sob sua direção fazer uma semana de oração.
            [...] Qual o caminho para chegar até a santidade? Em primeiro lugar os sacramentos da Igreja e, principalmente, a Eucaristia.
            Nossos cristãos de 1958 (e continua sendo assim em 2012) sabem, é claro, que podemos comungar todos os dias; essa é, pensam eles uma devoção edificante; mas os melhores, mesmo os militantes, no seu conjunto terão eles compreendido, ou chegaram mesmo a perceber que o regime normal do cristão normal é a comunhão cotidiana?
            E existe um outro alimento, não menos necessário que a Eucaristia para o organismo espiritual do cristão: a Palavra de Deus. Nosso amor a Deus, para continuar vivo, exige fé viva, um conhecimento vivido. 
            Ora, o meio privilegiado para termos uma fé viva é deixar que penetre em nós a Palavra de Deus viva, criadora e recriadora.
            Contudo a Eucaristia e a Palavra não produzirão em nós seus efeitos vitais e transformadores a não ser que nossa alma esteja irrigada pela oração interior. [...] Pe. Caffarel dedica tanto esforço a levar os cristãos à oração, e a essa forma eminente de oração que é a oração interior. Por isso ele dava este brado de alarme:
            O que me parece faltar à comunidade cristã e a seus membros é a vitalidade. [...] Penso que a causa dessa inquietante anemia está no descuido dos cristãos pela oração e, principalmente, por essa forma, face a face com Deus, que se chama oração interior. Naqueles que a negligenciam, fica como que entravada a eficácia da Palavra de Deus e dos sacramentos.
            Uma vez que não vão haurir, pela oração, da força divina, esses cristãos acabam não tendo forças para a ação; porque não contemplam as grandezas de Deus, acovardam-se; porque não se elevam até os pensamentos de Deus, eles não têm senão uma visão míope dos problemas do mundo; porque não se conectam com a energia criadora, não têm nenhuma eficácia. Em uma palavra, quando não praticam a oração os cristãos continuam presos a um estágio infantil.
(Do livro “Orar 15 dias com Henri Caffarel”)



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