“Sejam Santos...”
A santidade até há
pouco parecia exigir a fuga do mundo, mas agora sempre mais reivindica seu
lugar no coração do mundo. O cristão não considera a realidade temporal como
algo a ser sacrificado em função de um bem maior; mas como algo que precisa ser
retomado e inserido na grande corrente que deve levar a criação toda na direção
de Deus. [...] Seria ingenuidade, porém, acreditar que essa evangelização do
temporal possa ser feita sem confrontos nem combates. A realidade temporal
ainda é, de maneira terrível, feudo do “príncipe deste mundo”, que não pretende
soltar sua presa! Imagina alguém que o mundo do trabalho poderá ser levado a
Cristo sem um duro esforço, ou que o mundo do capital possa ser facilmente
convertido ao Evangelho? E o mundo da política, e o da ciência, e o da arte?
Essa conquista da natureza pela graça exige que a santidade esteja presente por
toda a parte no mundo moderno. Aí está todo o problema: teremos santos leigos
(santos... fique claro: homens totalmente entregues a Cristo, habitados pela
caridade, movidos pelo Espírito), operários, camponeses, industriais que sejam
santos, políticos que sejam santos, artistas que sejam santos?
Padre
Caffarel escreveu essas linhas vinte anos antes do Concílio Vaticano II, que
inculcou com muita força essa vocação de todos os batizados à santidade. Esse
foi o objetivo de toda a sua ação apostólica: levar os leigos à santidade.
Primeiramente entre jovens, com os quais se ocupou durante os primeiros anos de
seu ministério, antes da guerra de 1940. Depois com os casais que reuniu no
Movimento das Equipes de Nossa Senhora. Finalmente com todos aqueles, de todos
os estados de vida, que acorriam a Troussures, para sob sua direção fazer uma
semana de oração.
[...]
Qual o caminho para chegar até a santidade? Em primeiro lugar os sacramentos da
Igreja e, principalmente, a Eucaristia.
Nossos cristãos de 1958 (e continua sendo
assim em 2012) sabem, é claro, que podemos comungar todos os dias; essa é,
pensam eles uma devoção edificante; mas os melhores, mesmo os militantes, no
seu conjunto terão eles compreendido, ou chegaram mesmo a perceber que o regime
normal do cristão normal é a comunhão cotidiana?
E
existe um outro alimento, não menos necessário que a Eucaristia para o
organismo espiritual do cristão: a Palavra de Deus. Nosso amor a Deus, para
continuar vivo, exige fé viva, um conhecimento vivido.
Ora, o meio privilegiado para termos uma fé
viva é deixar que penetre em nós a Palavra de Deus viva, criadora e recriadora.
Contudo
a Eucaristia e a Palavra não produzirão em nós seus efeitos vitais e
transformadores a não ser que nossa alma esteja irrigada pela oração interior.
[...] Pe. Caffarel dedica tanto esforço a levar os cristãos à oração, e a essa
forma eminente de oração que é a oração interior. Por isso ele dava este brado
de alarme:
O que me parece faltar
à comunidade cristã e a seus membros é a vitalidade. [...] Penso que a causa
dessa inquietante anemia está no descuido dos cristãos pela oração e,
principalmente, por essa forma, face a face com Deus, que se chama oração
interior. Naqueles que a negligenciam, fica como que entravada a eficácia da
Palavra de Deus e dos sacramentos.
Uma vez que não vão
haurir, pela oração, da força divina, esses cristãos acabam não tendo forças
para a ação; porque não contemplam as grandezas de Deus, acovardam-se; porque
não se elevam até os pensamentos de Deus, eles não têm senão uma visão míope
dos problemas do mundo; porque não se conectam com a energia criadora, não têm
nenhuma eficácia. Em uma palavra, quando não praticam a oração os cristãos
continuam presos a um estágio infantil.
(Do livro “Orar 15 dias
com Henri Caffarel”)
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