terça-feira, 3 de junho de 2008

O CASAMENTO-AMOR COM COMPROMISSO


João Paulo II, de saudosa memória, num dos seus discursos ao Tribunal da Rota Romana, fez ressaltar a “diferença essencial” entre o matrimónio e a mera “união de fato”. O Santo Padre lembrou que os primeiros cristãos tiveram que enfrentar-se com a cultura jurídica de Roma, que fazia depender a estabilidade do vínculo matrimonial da permanência do affectio maritalis. Experimentalmente “o mero sentimento não pode separar-se da mutabilidade do ânimo humano; a atração recíproca não pode ter estabilidade e está exposta a extinguir-se facilmente se não definitivamente”. Pelo contrário, o amor coniugalis “não é só nem sobretudo sentimento, mas é essencialmente um compromisso com outra pessoa, que se assume com um ato da vontade. É isto que qualifica este amor, convertendo-o em conjugal. Uma vez dado e aceite o compromisso por meio do consentimento, o amor converte-se em conjugal e nunca perde esse caráter”.

O matrimónio reflete “uma doação recíproca de amor, de amor exclusivo, de amor indissolúvel, de amor fecundo”. Portanto, não pode confundir-se com o mero rito formal e externo, ainda que, “certamente, a forma jurídica do matrimónio representa uma conquista da civilização, que lhe confere relevância e eficácia face à sociedade. E esta compromete-se a cuidá-lo”. À luz dos grandes princípios naturais que marcam o matrimónio, chega-se a compreender “a diferença essencial existente entre uma mera união de fato – ainda que se pretenda fundada no amor – e o matrimónio, no qual o amor se traduz num compromisso não só moral, mas também jurídico”. Como consequência, revela-se incongruente “a pretensão de atribuir uma realidade ‘conjugal’ à união entre pessoas do mesmo sexo”. Se as palavras se gastassem eu penso que já não havia «amor», tão usada ela é. Usa-se no seu verdadeiro sentido e usa-se com uma despudorada deturpação. Os sábios e as pessoas de bom senso lamentam a deterioração da palavra «amor» - as pessoas não percebem que estão usando em vão o nome de Deus, uma vez que diz S. João que Deus é Amor. A palavra «amor» está de tal modo deturpada que se chamam aos adúlteros, os infiéis ao amor, «amantes». Essas pessoas amam a sua própria satisfação, os seus apetites desordenados e fogem de todo o sacrifício que acompanha o verdadeiro amor. Fala-se até de «amor livre», duas palavras que deviam viver unidas, que deviam ser fecundas e no entanto não passam de um encontro impessoal sem compromisso, sem outra finalidade que não seja a satisfação do instinto. O «amor humano» é muito diferente, porque o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Temos de tornar a dar à palavra «amor» a dignidade que lhe foi tirada, de modo que ela volte a mostrar centelhas da santidade de Deus. Assim tornaremos o «amor humano» semelhante ao amor de Deus que é Amor, melhor dizendo, é o Amor. No amor de Deus não aparece nenhuma componente material, porque Deus é puro Espírito e o seu Amor é puramente espiritual. Também no homem o amor é sobretudo ou deve ser espiritual, não se devendo dar esse nome à mera atracção física. É certo que no homem há uma mistura de espírito e corpo, e assim o amor terá manifestações sensíveis, sendo, porém, o seu princípio espiritual. Se faltar a componente espiritual ao «amor humano», não se está a falar de amor verdadeiro. Para que este exista tem de intervir a vontade, que leva a que o amor seja um «querer bem». Amar assim é buscar o bem do outro, como se fosse o seu próprio bem. Amar também é dar-se. Na Redenção Deus feito Homem, assume a forma de escravo, aniquila-se, Ele que é imutável que não pode sofrer torna Sua a natureza humana e sofre para nos resgatar do poder do pecado, do demónio e da morte – dá-se totalmente. Muitas vezes a sensualidade causa problemas porque o coração atraiçoa; então é preciso tirar do peito o coração de pedra e meter nele um coração de carne, obediente às leis de Deus e observante dos seus princípios (Cfr. Ez 36, 26-27). Este é o remédio que leva Rabindranath Tagore a escrever: “O tesouro da castidade vem da abundância do amor”. E como conseguir esse amor? Recorrendo à Mãe do Amor Formoso, a Virgem Nossa Senhora. Não tenhamos medo que o amor se torne demasiado espiritual, pois que quanto mais espiritual for mais alegre e mais nobre ele é. Talvez custe, mas recorrendo a Maria tudo irá bem e chegaremos à conclusão que vale a pena... Estas considerações podem servir de lembrança para o Dia dos Namorados uma vez que, para mim, o namoro deve ser a ante-câmara do Matrimónio.


Escrito por Maria Fernanda Barroca

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