segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Vocês sabem o que seus filhos andam fazendo?


Meu filho de 15 anos estuda numa escola em que estudam os filhos da nata da sociedade, empresários, artistas, intelectuais da Zona Sul carioca. Escrevo sob pseudônimo para poupá-lo e não identificar os jovens que são objeto deste artigo.
Eis o que aconteceu.
Um ano após experiência traumática em minha casa, onde ofereci uma festa para 150 jovens, algo mais sério aconteceu. O trauma foi pelo fato de que muitos dos convidados entraram na festa já bêbados, trazendo, escondidas na roupa, garrafas de vodca, gerando uma situação que nunca poderia esperar numa festa de 14 anos! Apesar de os seguranças e garçons terem confiscado algumas garrafas, outras passaram. Apesar de terem reprimido, o cheiro de maconha subia. Encerrei a festa mais cedo. Saldo: lixo espalhado por todos os cantos; pias e privadas entupidas por vômitos; objetos destruídos. Chocante! Foi minha primeira experiência concreta com essa juventude criada sem limites, que tem tornado a vida de profissionais que com ela lidam, como professores e empregados domésticos, um verdadeiro inferno.
Na ocasião, meu filho compreendeu que eu vetasse qualquer nova festa em casa. Um ano depois, no entanto, uma amiga próxima o convenceu (e ele a mim) a oferecer a casa para uma "social" com 15 pessoas.
Apesar de convalescente de uma doença séria, aceitei aquele número de colegas para um papo, com som baixo e bom comportamento prometidos. Tive que fazer uma visita emergencial ao médico naquela noite de sexta-feira.
Na volta, meu filho estava nervoso: a coisa tinha saído de controle e mais de 40 jovens haviam entrado. Minha irmã e os empregados que me substituíram estavam também assustados. Meu filho me explicou que a tal "amiga" havia convidado as pessoas sem seu conhecimento e muitas delas ele nem conhecia.
As conversas e castigos, para que ele entendesse o tamanho de sua responsabilidade, foram duros. Ele conhece bem os limites impostos por uma educação baseada em princípios éticos e morais. Mas muito mais duro foi ele ter que lidar com a decepção de ter sido usado e manipulado pela menina e de romper com alguns outros conhecidos.
Mas são os fatos que interessam: o encontro começou às 21h30min e eu cheguei às 23 h. Nesse intervalo, o que esses jovens fizeram foi inimaginável no zoológico. Após a tentativa totalmente fracassada de meu filho comunicar que a reunião acabaria, pois a mãe estava muito doente, resolvi intervir. Disse a mesma coisa em voz alta para todos, pedindo que se fossem. Nada.
Aos poucos fui percebendo o nível de destruição e de lixo e ficando crescentemente alterada, até que, apesar de recém-saída de uma cirurgia no coração, expulsei todos da casa aos berros. Eles não se intimidaram. Fizeram algazarra na porta até uma hora da manhã. A uma determinada altura, notei que a porta do quarto de meu filho estava trancada. Batemos, eu e ele, insistindo para que quem quer que estivesse lá abrisse a porta.
Era a tal "amiga", na cama de meu filho com um cara.
Eu, meu filho e um amigo, chocados, contabilizamos o estrago: do salão, onde a maior bagunça tinha ocorrido, tiramos dois sacos grandes de lixo espalhado, os móveis, cortinas e o chão estavam encharcados, pisoteados, imundos; brinquedos de meu neto jogados nos canteiros do jardim. Na sala de estar, um quadro a óleo estava com duas mossas e uma escultura de vidro quebrada (por um soco proposital, vim a saber).
Apenas dois pais vieram resgatar seus filhos. Perguntaram o que havia acontecido. Meu ex-marido, que veio me ajudar, respondeu: pergunte a eles. O que terão eles contado aos pais? E os outros que saíram sozinhos por aí, pegaram táxis, foram para outros lugares? E você? Sabe o que seu filho anda fazendo por aí?
Vera Ferreira é empresária.
Publicado no jornal O Globo, sexta-feira, 13/08/2010

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