Repleta de significado a assertiva de Carlos de Foucauld: “Se rezamos mal, ou se não rezamos bastante, somos responsáveis por todo o bem que poderíamos ter feito e que não fizemos”. O cristão deve se tornar uma verdadeira e viva oração, pois esta não se resume nas preces feitas, mas deve envolver todos os gestos e ações. São Paulo foi claro: “Quer comais, quer bebais, fazei tudo para honra e glória de Deus” (1 Cor 10,31).
É preciso realizar todas as tarefas em espírito de oração. Deste modo, a oração cristã se estende pelo universo todo numa sinfonia coletiva para o louvor ao Ser Supremo. Trata-se da globalização da oração. O que se esquece muitas vezes é que a prece individual é uma parcela do todo eclesial. Membros do Corpo Místico de Cristo é em Jesus, por Jesus, com Jesus que o batizado ora, unido assim a toda a Igreja orante. Cristo é a Oração substancial e nele as preces de cada um têm um valor maravilhoso. Todo epígono do Redentor precisa ser um profissional da oração. Cumpre orar pelas próprias necessidades em união com os que rezam, orando em nome de todos que não rezam! Jesus afirmou: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5). Por isto, como dizia Santo Agostinho, somos os mendigos de Deus. Por outro lado há inúmeros que não sabem quão suave e benéfico é orar e não levantam os olhos para o Onipotente. Falta-lhes o oxigênio espiritual e por isto jazem mortos nos vícios.
Por tudo isto a oração de quem reza deve ser um olhar para a complacência divina. Então as orações não se transformam num nevoeiro de uma recitação fastidiosa. Deixar que o olhar de Jesus penetre as profundezas do ser e acatar o que ele vai pedir seja corrigido e o fazer imediatamente. O fervor do desejo de agradar a Deus é o cerne da prece bem feita. Santa Ângela de Foligno ensinava: “Nossas orações devem ser clamores interiores, violentos, potentes, repetidos que arrancam à força as graças das entranhas do Pai Celeste”. Além disto, orar não é apenas pedir, invocar auxílio, é contemplar. Contemplar é vir a ser um outro Cristo, pois a prece verdadeira é transformante. Disto tudo resulta também a espontaneidade com que, nas preces individuais, se deve dirigir a Deus. O próprio Espírito Santo inspira o modo certo de se falar com o Onipotente. Além disto, nunca se insiste demais de que a oração não pode ser um ato apressado, corrido, desatento, dado que é uma homenagem e não um insulto. Para isto se faz indispensável o Dom da Sabedoria que leva a degustar a união com Aquele “no qual existimos, nos movemos e somos” (Atos 17,28). Deste modo, a oração fica impregnada de franqueza e toda insinceridade é alijada, uma vez que o formalismo e toda e qualquer artificialidade são banidos.
É de bom alvitre que o cristão tenha seu horário especial para orar: pela manhã, consagrando o novo dia ao Senhor; nos momentos de folga do trabalho, no decorrer das horas e à noite, visando agradecer tudo que se recebeu em mais uma jornada nesta terra. Ao estar sempre na presença de Deus o fiel transforma todos os seus atos em preces, mesmo porque em qualquer circunstância cada um está sempre a serviço do próximo, que é o próprio Jesus (Mt 25,45). Aliás, o Apóstolo Paulo ensinava que a piedade é “útil para tudo tendo a promessa da vida presente e da futura” (1 Tm 4, 8). Nunca a oração feita com devoção fica sem resposta. No momento oportuno Deus atenderá a quem reza com insistência e, muitas vezes, a melhor resposta divina é a fortaleza interior para se suportar com paciência as turbulências da existência terrena. Com propriedade se exprimiu Carlyle: “Ninguém fará algo no mundo visível se não pedir conselho ao Invisível”. Nada engrandece mais o ser racional do que cumprir esta sua missão cultual no mundo, mesmo porque, como ensinou Bossuet, “o homem está colocado à frente da natureza visível para ser o adorador na Natureza invisível”.
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