Há mais de 30 anos que prego retiros para casais. E, todas as vezes, vejo homens e mulheres, quase todos anêmicos ao ingressarem nessas “clínicas” que são as casas de retiro, apresentarem, ao sair, uma nova vitalidade espiritual, adquirida após a “cura de alma” a que se entregaram.
Será preciso, é certo, fazer novo retiro no ano seguinte. É que são muitos os que deixam que a anemia novamente os atinja. E, uma vez mais, irão fazer a experiência da extraordinária eficácia de alguns dias passados com Deus.
Qual seria o segredo dessa eficácia? Silêncio, missa diária, oração... outras tantas razões, sem dúvida. Mas a razão primeira, a mais decisiva, é outra. Nesses homens e mulheres a fé achava-se enfraquecida, doente, sonolenta, esgotada, moribunda; eis que, ao sopro da Palavra de Deus, ela desperta, firma-se, readquire vitalidade. Porquanto há uma relação muito estreita entre a fé e a Palavra do Senhor; somente a Palavra de Deus tem o poder de despertar e alimentar a fé, esta fé que é conhecimento de Deus, de sua vida íntima e de seu domínio sobre o universo.
A fé enfraquece, definha, naquele que não se abre à Palavra de Deus e não a guarda. Entendo por Palavra de Deus os Livros inspirados e toda palavra ou escrito que apresenta a Revelação que esses livros contêm.
Se há tantos cristãos raquíticos, é que são bem poucos aqueles que procuram a Deus:
“Javé, do alto dos céus, se inclina sobre os filhos dos homens para ver se há um sensato, um que procure a Deus.” (Salmo 14, 2).
Pelo contrário, estará protegido da anemia espiritual aquele que alimenta a sua fé, que procura o conhecimento de Deus, isto é, o conhecimento de Jesus Cristo por quem e em quem o Pai tudo nos deu, tudo disse, tudo revelou, tudo manifestou. E, como a sua fé é alimentada, cresce o seu amor de Deus, aumenta a sua generosidade ao serviço de Deus. Nele há vida.
“A vida eterna é que eles te conheçam, a ti, único Deus verdadeiro, e teu enviado, Jesus Cristo.” (Jo 17, 3).
Eis por que, nas Equipes de Nossa Senhora, dá-se tanta importância à troca de idéias, este momento que, no decorrer das reuniões, é consagrado à procura do conhecimento de Deus, de seu pensamento e de sua vontade. Eis por que se pede a cada casal que se aplique seriamente no estudo do tema, marido e mulher juntos. Eis por que considero um mau sintoma ouvir tal membro de uma antiga equipe dizer-me: “poderíamos renunciar ao tema e dedicar maior tempo à oração e à coparticipação”. Eis por que, recentemente, foi pedido a todos os membros das Equipes de Nossa Senhora que dediquem diariamente pelo menos dez minutos de seu tempo à leitura pausada e refletida das Sagradas Escrituras.
“Dobro os meus joelhos na presença do Pai... digne-se Ele, segundo a riqueza de Sua glória, armar-vos de poder por seu Espírito, para que se fortaleça em vós o homem interior; que o Cristo habite em vossos corações pela fé, e que estejais enraizados, fundados no amor. Recebereis assim a força de compreender, com todos os santos, qual é a Largura, o Comprimento, a Altura e a Profundidade, conhecereis o amor de Cristo, que excede todo conhecimento, e sereis repletos de toda a plenitude de Deus.” (Ef 3, 14-19).
Henri Cafarrel
Editorial da Carta Mensal
maio de 1972
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