Com o propósito de “denunciar a perversidade de todo o modelo econômico que vise em primeiro lugar o lucro” e de incentivar a responsabilidade dos fiéis em relação às questões econômicas que atingem a justiça social, a educação e o meio ambiente, a Igreja Católica lança hoje, Quarta-feira de Cinzas, a Campanha da Fraternidade 2010. Com o tema “Economia e Vida” e o lema “Vocês não podem servir à Deus e ao dinheiro”, a campanha deve promover a reflexão sobre assuntos como a importância do voto direto, e o uso racional do dinheiro e dos recursos naturais. Em sua 46º edição, a iniciativa visa orientar os fiéis a refletirem sobre a preponderância dos valores éticos, morais e espirituais sobre o dinheiro, indicando que a economia deve servir à vida.
Essas questões serão debatidas por sacerdotes durante as missas promovidas, principalmente, no período da Quaresma - os 40 dias que antecipam a data da crucificação e a ressurreição de Cristo.
De acordo com o arcebispo metropolitano de Sorocaba, dom Eduardo Benes de Sales Rodrigues, essa é a terceira Campanha da Fraternidade que é ecumênica (as outras foram em 2000 e 2005), promovida pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) junto ao Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic). A campanha será realizada por cinco igrejas: Católica, Presbiteriana Unida do Brasil, Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, Episcopal Anglicana do Brasil e Sirian Ortodoxa de Antioquia. A justificativa, segundo ele, é que dessa forma o tema será discutido de forma mais ampla, em todas as camadas da sociedade. “Tudo gira em torno da organização econômica: a segurança pública, a justiça, o meio ambiente... Essa organização promove a vida humana porque a divisão responsável do dinheiro fomenta o acesso à educação, à saúde, à moradia para todos. Isso também é justiça, e justiça é promoção da paz”, explicou.
Para o bispo, a economia tem importância fundamental e reflete na situação atual do mundo, em todas as esferas. Prova disso, citou, é a crise financeira mundial enfrentada por vários países entre 2008 e o ano passado. Ele chamou a atenção também para as consequências relativas ao aquecimento global, que acaba por ser um problema coletivo. “Na questão da crise financeira, por exemplo, ficou clara a má divisão do dinheiro, de bens materiais. Ricos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres. O que foi a crise? Nada mais do que uma falha no sistema que acabou por mostrar a todos de que algo tem que ser revisto e que a situação não é justa”, resumiu. “O caos no clima é o exemplo nítido também de que ninguém se salva sozinho. Ou nos salvamos todos ou padecemos todos”, acrescentou.
Principal instrumento: o voto
E para promover essas reflexões propostas pela Campanha da Fraternidade 2010 e assim fomentar mudanças coletivas, a autoridade religiosa pontuou alguns exemplos e conselhos. De acordo com o bispo, a principal ferramenta que os fiéis tem para alcançar uma economia responsável é o voto direto.
Na sua opinião, os candidatos políticos que estejam realmente empenhados em favorecer o coletivo e comprometidos com a justiça humana devem ter apoio. “O principal instrumento do cidadão cristão é o voto e é com ele que é possível mudar algo, pois há gente sim comprometida com o coletivo”, frisou.
O arcebispo destacou também o terremoto que devastou o Haiti no início do ano, o que na sua opinião foi o maior exemplo de que as nações devem e podem se unir para um bem maior, o da comunidade. “Ali ficou claro que é preciso solidariedade mundial e que isso é possível. Basta que hajam governantes comprometidos e uma comunidade atuante, educada”, falou, ressaltando a importância do acesso à educação.
“Todos já sabemos que com educação é possível mudar muita coisa. A educação promove a reflexão. E devemos sim repensar nossa forma de viver, pensar no uso racional da água, na destinação do material reciclável... Devemos cobrar atitudes positivas das autoridades, exercer nosso papel de cidadão promovendo a cultura, a educação, a caridade. Doar é um bem que por vezes não é material. Podemos doar tempo, conhecimento”, sintetizou.
Orações e jejum
Conhecida pelos católicos como período de jejum e orações, a Quaresma também é período de caridade e reflexão, segundo o arcebispo. Ele explicou também que as abstinências de alimentos, por exemplo, como de carne vermelha durante os 40 dias, devem ser realizadas, porém, destacou jejuns de ações que promovem o pecado. “Uma penitência que deve ser praticada é o jejum de tempo perdido. Tempo perdido com programas de TV que não acrescentam nada em nossas vidas, tempo perdido com fofocas, com o que é supérfluo. Essas coisas não nos preenchem. Temos que buscar coisas boas”, apontou. “Se prestar a ouvir as pessoas é uma forma de doação. Podemos doar afeto, prestar serviços que fomentem o bem”, finalizou.
Fonte de consulta: Jornal Cruzeiro do Sul
(http://www.cruzeirodosul.inf.br/materia.phl?editoria=39&id=265656)