segunda-feira, 8 de março de 2010

"O FERREIRO"


Era uma vez um ferreiro que, após uma juventude cheia de excessos, resolveu entregar sua alma a Deus. Durante muitos anos trabalhou com afinco, praticou a caridade, mas, apesar de toda a sua dedicação, nada parecia dar certo na sua vida. Muito pelo contrário: seus problemas e dívidas acumulavam-se cada vez mais.
Uma bela tarde, um amigo que o visitara e que se compadecia de sua situação difícil, comentou: _É realmente estranho que, justamente depois que você resolveu se tornar um homem temente a Deus, sua vida começou a piorar. Eu não desejo enfraquecer a sua fé, mas apesar de toda sua crença no mundo espiritual, nada tem melhorado.
O ferreiro não respondeu imediatamente. Ele já havia pensado nisso muitas vezes, sem entender o que acontecia em sua vida. Entretanto, como não queria deixar o amigo sem resposta, começou a falar e terminou encontrando a explicação que procurava. Eis o que o ferreiro disse:
_Eu recebo nesta oficina o aço ainda não trabalhado e preciso transformá-lo em espada. Você sabe como isso é feito? Primeiro eu aqueço a chapa de aço num calor infernal, até que fique vermelha. Em seguida, sem qualquer piedade, eu pego o martelo mais pesado e aplico golpes até que a peça adquira a forma desejada. Logo ela é mergulhada num balde de água fria e a oficina inteira se enche com o barulho do vapor, enquanto a peça estala e grita por causa da súbita mudança de temperatura. Tenho que repetir esse processo até conseguir a espada perfeita: uma vez apenas não é suficiente.
O ferreiro deu uma longa pausa e continuou:
_Às vezes o aço que chega até minhas mãos não consegue aguentar esse tratamento. O calor, as marteladas e a água fria terminam por enchê-lo de rachaduras. E sei que jamais se transformará numa boa lâmina de espada. Então, eu, simplesmente, o coloco num monte de ferros velhos que você viu na entrada da minha ferraria.
Mais uma pausa e o ferreiro concluiu:
_Sei que Deus está me colocando no fogo das aflições. Tenho aceitado as marteladas que a vida me dá, e, às vezes, sinto-me tão frio e insensível como a água que faz sofrer o aço. Mas a única coisa que peço a Deus é: “Meu Deus, não desista até que eu consiga tomar a forma que o Senhor espera de mim. Tente da maneira que achar melhor, pelo tempo que quiser, mas jamais me coloque no monte de ferro velho das almas.”

(Texto extraído da Carta Mensal de Setembro de 2000)

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