sexta-feira, 16 de maio de 2008

SERVIR É AMAR





Jesus veio para anunciar, denunciar, ensinar. Contemplando a pessoa de Jesus e colocando-nos no seu seguimento, seremos capazes de viver o ministério de uma vida nova. Jesus assumiu o Seu “Magistério de Mestre”, ele mesmo quer que não tenhamos nenhum outro mestre a não ser Ele, e que não chamemos a ninguém de guia a não ser Ele, nem de Pai a não ser o Pai Celeste. Todos somos irmãos, mas embora Ele seja mestre e guia, assume o ministério de serviço, lavando os pés de todos nós, que somos representados pelos apóstolos no cenáculo.
É muito significativo que Jesus, antes de iniciar a sua missão de evangelizador revelando quem Ele era, verdadeiramente homem e verdadeiramente filho de Deus, tenha exercitado o serviço de trabalhador, de carpinteiro.
Jesus em todos os momentos de Sua missão, no meio dos homens, nos mostrou como agir, nos deu o exemplo.
Na vida do cristão não importa tanto o saber, mas sim o ser, o agir. Por isso o conhecimento do amar não nos vem pela cultura e pela teologia, ma sim pela experiência prática e diária do bem.
Não é difícil fazer belos discursos sobre o serviço e a disponibilidade, mas o que vale é servir, descer do próprio pedestal e “misturar-se com os pobres e pequenos, e sermos um deles no dia-a-dia”.
O serviço, o trabalho, não desconsagra, mas nos consagra sim, em nossa humanidade.
Através da liturgia do lava-pés, Jesus nos ensina que servir é amar.

“Levantou-se então da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e amarrou-a na cintura. Depois derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos discípulos e a enxugá-los com a toalha da cintura”. (Jo 13,4-5)

Levantou-se da mesa – Jesus está sentado à mesa com os seus apóstolos; a um certo momento Ele “Levantou-se da mesa”. Esse gesto era insólito, ninguém se levanta da mesa para fazer nada, tudo era servido. Esse gesto de Jesus, assume um significado especial. Ele mostra que não se pode servir permanecendo em nosso “comodismo”. O gesto de levantar denota que há algo por ser feito, É desinstalar-se do próprio bem-estar, é tomar consciência que algo deve ser feito para que as coisas mudem ou funcionem melhor.

Tirou o manto – O manto impede a liberdade dos movimentos, não permite correr ou movimentar-se com facilidade. Há mantos que são sinais de poder. O juiz usa a “toga” quando está no seu serviço, para mostrar o seu poder, é dele que depende a interpretação da lei. Também na Igreja se usa o manto nas grandes celebrações, para dar maior solenidade e maior poder. Não é possível lavar os pés com o manto, o próprio Jesus nos recorda que se alguém quer pegar o nosso manto, devemos dar-lhes também a “túnica”, para mostra que não devemos fazer valer o nosso poder sobre ninguém e em nenhuma situação devemos dominar com a nossa autoridade. A palavra de ordem do novo reino que Cristo veio estabelecer entre nós é “servir”.

Tomou uma toalha – Em nenhuma casa onde se prepara uma festa, podem faltar toalhas e água. Por isso não foi difícil para Jesus encontrar uma toalha na casa onde Ele se encontrava. Jesus quis mostrar aos seus apóstolos que ao assumirem a missão de servidores uns dos outros, eles não podem dominar ou buscar superioridade, devem tomar sinais simples como uma toalha, de serviço humilde diário e corriqueiro. Não podem se envergonhar de amar por meio do serviço.

Cingiu-se com a toalha – O gesto mais simples que alguém pode fazer, e mais custoso, é cingir-se os rins com uma toalha para não sujar-se, mas para servir. Nós perdemos a alegria de servir; embora o neguemos, gostamos muito de ser servidos e ocuparmos os primeiros lugares no palco, onde sempre seremos vistos e ovacionados pelos outros. Mas ao nosso redor, há tantas pessoas silenciosas, humildes, que servem com amor, tendo os seus rins cingidos.Há quem trabalhe sem nada reclamar e exigir, o faz por amor. Jesus, com o gesto de cingir-se os rins com uma toalha, quer nos chamar a atenção a não deixar-nos “embriagar” pelo poder, pela riqueza e pela fama, mas sim a assumir na vida o nosso lugar como quem serve, e mesmo quando exercemos a autoridade nunca devemos nos afastar das pessoas simples.

Derramou água numa bacia – Jesus, levantando a ânfora, faz cair a água na bacia. É água derramada que será sinal do batismo, da purificação, da vida nova, do repouso e descanso. É preciso derramar a água para que os pés sejam lavados, é preciso derramar o nosso amor para que o coração das pessoas seja renovado e revigorado, purificado de todos os pecados. O lava-pés exige o derramar a água, mas aqueles aos quais são lavados os pés se tornam anunciadores de uma Boa Nova e correm com vigor e entusiasmo a anunciar o amor.

E se põe a lavar os pés dos discípulos – Aprender a lavar-nos os pés reciprocamente é sem dúvida a mais bela diakonia que podemos prestar, não só lavar os pés materialmente, mas sim com toda a simbologia que representa. Lavar os pés uns dos outros é perdoar aos que nos ofendem; amar os que não nos amam e vivem distantes de nós; entrar em comunhão com todos, não fazendo pesar sobre os outros, nem nossa cultura, nem religião, nem as diferenças. Todo ser humano, como criatura e imagem de Deus, deve ser acolhido. O ser humano deve ser amado e a ele devemos lavar os pés com carinho.

Enxuga-lhes os pés com a toalha – Jesus sem nada dizer nem pedir, tira a toalha com que se tinha cingido, e ainda ajoelhado enxuga com amor e carinho os pés dos discípulos que tinham acabado de lavar. Gesto humilde, delicado, de amor, que deve sem dúvida ter tocado e emocionado o coração dos apóstolos. O ser humano, à medida que cresce e se insere na vida, toma as rédeas da própria autonomia e quer ser independente, não aceita com facilidade ser ajudado pelos outros nem deixar-se ajudar. O orgulho não nos permite que alguém, a não ser em extrema necessidade, venha em nosso socorro. Jesus nos ensina a estarmos abertos a ajuda mútua, a ajudar e ser ajudado, a sermos humildes em dar e receber.

Nós sabemos muito bem, embora nos custe reconhecê-lo, o que quer dizer “lavar os pés uns dos outros”. É o momento de arregaçar as mangas e iniciar esse gesto litúrgico, eucarístico, humano e divino.

Vamos Refletir:

1 – Entendemos o que Jesus fez com o lava-pés, o ensinamento que ele quis nos dar?
2 – Sabemos reconhecer quais são os irmãos e irmãs que esperam que nós tomemos a iniciativa de lavar-lhes os pés?
3 – Estamos dispostos a lavar-nos os pés uns dos outros?
4 – o que é que mais nos custa no serviço aos outros, especialmente aos mais pobres, antipáticos e que sabemos que não nos amam?

“Eu vos dei o exemplo para que façais o mesmo que eu vos fiz”. (Jo 13,15)


Fonte: Livro – Espiritualidade do avental
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